Separados de Babilônia e do Egito
O Boletim da Associação Geral, de 15 de março de 1897, págs. 365-374, traz um artigo sobre a séria e controversa pergunta, que já naquela época era formulada entre o povo do advento: Devem os adventis- tas tomar parte na política e na guerra? Sob o título “Separados de Babilônia e do Egito” (n? 7), A. T. Jones discute a questão. Reprodu- zimos abaixo os trechos mais importantes de seu artigo. Recomen- damos, porém, a leitura do artigo completo.
Por A. T. Jones
É precisamente na mensagem do terceiro anjo e através dela que Deus pretende “estabelecer o cristianismo sobre uma base eterna.” Nesse caso, como é certo que Deus estabelece o cristianismo sobre uma base eterna na mensagem do terceiro anjo, também é certo que o cristianismo não se relaciona com coisa alguma nesta Terra. Estará ligado apenas com Deus; apenas com Sua eterna Palavra; iluminado por Seu eterno Espírito; ensinado por Aquele cujas saí- das são desde os dias da eternidade; e assim será conduzido pelo Deus infinito, que pode governá-lo e protegê-lo com braços eter- nos.
Eu sei, e vós sabeis, que existem entre nós irmãos que acham não estar isso correto. Faz dois anos que isso foi pregado e publica- do no Boletim. Muitos, porém, não o aceitaram na ocasião. Ainda hoje alguns não o aceitam. Julgam que isso é completamente erra- do. Mas na última assembléia da Conferência Geral, foram-nos li- dos dois testemunhos escritos especialmente para essa assembléia, e um deles vi que foi publicado no Boletim no. 4. O outro ainda não foi impresso, mas creio que será publicado brevemente, reprovan- do os adventistas do sétimo dia pelo seu envolvimento em assuntos políticos. Para dar uma idéia do conteúdo, transcrevo um trecho como segue:
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Separados de Babilônia e do Egito 23
“O Senhor Jesus está decepcionado com Seu povo. Ele é o Capitão sob cuja bandeira eles devem marchar em fila. Eles não devem empregar tem- po, sabedoria nem energia para participar em partidos políticos. Os ho- mens estão sendo agitados por intensa atividade vinda de baixo, mas os filhos e filhas de Deus não devem empregar sua influência nesta rivalida- de política. Que tipo de espírito se apodera de nosso povo quando aqueles que crêem na terceira mensagem angélica, a última mensagem de miseri- córdia ao mundo, e que se dizem irmãos na mesma fé, aparecem usando distintivos de partidos políticos opostos, que proclamam sentimentos opos- tos e declaram opiniões divididas?”
Agora faço a seguinte pergunta: Se aquilo que foi pregado dois anos atrás sobre o assunto Igreja-Estado tivesse sido aceito e segui- do por todos os adventistas do sétimo dia, teria sido necessário esse testemunho? Obviamente não. Acaso essas lições ensinavam uma atitude errada ao chamarem o povo de Deus para tomar uma posi- ção na qual seria impossível a Deus encontrar neles alguma falta? Refiro-me a este ponto particular. Quero dizer que quando uma linha de verdades é apresentada em base da Palavra do Senhor e Seu povo a aceita diante de Deus e do mundo, e quando essa linha os coloca numa atitude em que a Deus seja impossível encontrar neles faltas relativas a essa linha, não é seguro aceitá-la como ver- dade? Que possibilidade de erro haveria nisso? ...
Não peço agora que aceitem isso só porque está aqui [no Bole- tim]. Peço que o acolham, o estudem, orem a respeito, observem-no e o aceitem porque isso é a verdade que livrará o povo de Deus da possibilidade de Ele ter de reprová-los e corrigi-los num ponto se- melhante a este. Sei, contudo, que há irmãos que ainda pensam que tudo isso é errado. Dizem que essa atitude exige que o povo tome posição extrema — uma posição que estavam tomando. Acaso pode ser extrema a posição que estabelece o povo de Deus onde Ele quer que estejam, para que possam ficar inteiramente livres de todas es- sas coisas confusas — coisas que confundem o mundo?
Há outra coisa que precisamos considerar. Se tomarmos parte em negócios e discussões políticas, diferentes pessoas tomarão diferentes posições em partidos políticos opostos, proclamando sentimentos opos- tos e declarando opiniões divididas, enquanto professam ser irmãos. Qual é o último passo no mundo político? A guerra, naturalmente. Nesse caso, o que está na política, no princípio? A mesma coisa que está nela, no fim: a guerra. Esse é seu espírito do começo ao fim. Podem irmãos em Cristo, que são um em Cristo, empenhar-se em algo que os leve a dividir-se em espírito de antagonismo? Podem? Não! Não podem fa- zer isso e ao mesmo tempo permanecer em Cristo. ...
24 A História dos Adventistas do Sétimo Dia — Movimento de Reforma
Mas isso não é tudo. Se nós, os adventistas do sétimo dia, deve- mos pregar e defender aqueles [novos] princípios, resta-nos dar um importante passo a fim de render justiça ao governo dos Estados Unidos, do Estado de Michigan e de vários outros Estados, para que possamos aparecer na devida luz.
Digo isso de novo para que possais entender o que estou falando. Se devemos chegar ao ponto de aceitar o princípio segundo o qual os cristãos possam lutar, possam levantar o braço direito para defender o país, o governo e tudo o mais, então a denominação, para ser justa consigo mesma, e especialmente para com o governo dos Estados Uni- dos e vários Estados, deve proclamar isso publicamente, bem como repudiar e inverter a conduta adotada pela denominação no passado. Tenho aqui dois pequenos documentos impressos em 1865, des- crevendo algo que tinha ocorrido em 1864. Um deles, intitulado Pon- tos de vista dos Adventistas do Sétimo Dia referentes ao porte de armas, conforme apresentados perante os governadores de vários Estados e pe- rante o Chefe da Polícia Militar [dos Estados Unidos], com uma parte da
Lei do Alistamento.
Naquele tempo os adventistas do sétimo dia, por intermédio da Comissão da Conferência Geral, declararam ao governo dos Es- tados Unidos, bem como aos governos dos Estados de Illinois, Mi- chigan, Pennsylvania, Wisconsin e mais um ou dois Estados, que os adventistas do sétimo dia, como cristãos, não podiam aceitar a idéia de portar armas ou lutar sob qualquer circunstância. O outro docu- mento foi extraído dos escritos e publicações dos adventistas do sétimo dia para justificar o governo em aceitar da denominação aquela petição como legítima.
Ora, se essa ordem deve ser invertida e se nós devemos aceitar o ponto de vista de que, sob quaisquer circunstâncias, os cristãos podem lutar, então, como Comissão da Conferência Geral, repre- sentando a denominação, temos o dever de ir perante o governo dos Estados Unidos para dizer-lhes que mudamos de idéia. Tam- bém temos a obrigação de ir perante os governos desses Estados para dizer-lhes que mudamos nossos pontos de vista, a fim de que os registros oficiais estejam de acordo com nossa nova e revisada maneira de pensar sobre o assunto. ...
Lerei agora alguns trechos de documentos, publicações e peri- ódicos dos adventistas do sétimo dia, apresentados como evidência ao governo dos Estados Unidos e aos governos estaduais de que a posição tomada pela Comissão da Conferência Geral da denomina- ção era a posição compreendida por eles e não forjada para a oca- sião a fim de escaparem ao recrutamento ou aos resultados que so- breviriam ao país devido à guerra. ...
Separados de Babilônia e do Egito 25
Eis o trecho de um artigo escrito pelo pastor James White, em 1853, na revista The Signs of the Times:
“A professa igreja de Cristo deixou o braço de seu marido legítimo e agora se inclina para o forte braço da lei. Busca ser protegida e nutrida pelos governos corruptos do mundo, e é adequadamente representada pe- las filhas meretrizes da velha mãe, símbolo da Igreja Católica. Como a es- posa deve ser fiel ao marido, também deve a igreja ser fiel a Cristo e, em vez de buscar a proteção do braço da lei, deve apoiar-se apenas no potente braço de seu Amado. A igreja se uniu em matrimônio ilícito com o mundo. Podemos ver isso nos variados departamentos do governo civil. Mesmo no departamento de guerra, vê-se o professo ministro de Jesus fazer orações pelo sucesso na batalha, escarnecendo assim do Deus da paz.”
Também um trecho citado da Review and Herald de 9 de maio de 1854:
“Quer essas coisas estejam próximas ou não [referindo-se à vinda do Senhor], um fato permanece: O espírito de guerra está em toda parte — um espírito de ódio e de engano. É sua influência contaminadora que te- memos — uma influência desmoralizadora da familiaridade com as idéias de guerra e de derramamento de sangue, uma excitação mórbida, um espí- rito amargo de faccionismo, que é maléfico e produz males ao espalhar-se. “Não se diga que não há perigo em os discípulos de Cristo se envolve-
rem nessas causas. Há perigo, porque, ‘ao se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará.’ Mateus 24:12. São tais as misteriosas e inexplicáveis afinidades que ligam pessoa a pessoa e que proíbem um inte- resse separado e isolado, que inconscientemente somos contaminados com o tom predominante, e não nos damos conta disso até que a mente fique deturpada e vacilante. E achando-se a mente num estado doentio, está pronta para receber e conceber o mal. O castigo moral é mais destrutivo do que a própria peste. ”
Leio agora outro trecho, reimpresso da Review, datado de 14 de agosto de 1856:
“Concede-vos porventura o Evangelho de Jesus o direito de usar da espada; de aparelhar-vos com armas carnais; de empregar a es- pada para fazer provisão para a vossa própria casa, para livrar o oprimido do poder do opressor; de transgredir o sexto mandamen- to de Deus, que diz ‘Não matarás’? Jesus nos ensinou: ‘Amai vossos inimigos’.
“Achais que vós, como cristãos que viveis sob o Evangelho, tendes permissão da Bíblia para envolver-vos em querelas políticas de qualquer espécie, seja legislando ou executando as leis do governo humano? Se as- sim pensais, creio que estais cometendo grande erro.”
Isso foi o que a denominação disse em 1864. Apresentaram isso ao governo dos Estados Unidos como evidência de que não criam na guerra, de que não podiam portar armas e de que, se fossem convocados, não lutariam. O governo dos EUA ouviu seus repre- sentantes e tomou providências para que servissem em hospitais, onde podiam fazer a obra como ministros do Evangelho, cuidando dos doentes e apresentando a salvação aos moribundos. Se as coi- sas agora devem ser invertidas, devemos comparecer honestamen- te perante o governo e declarar que mudamos de parecer.
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